Tudo tem um preço
Até o apreço
O amor com amor se paga
Sem amor, se apaga
Tudo tem sentido
Menos a cor do teu vestido
E o mistério do teu olhar
Tudo se transforma
Menos o amor quando transborda
E insiste em transbordar
Tudo se acaba
Menos a vontade de não acabar
No traçado da vida
No traçado da vida fiz curvas
Derrapei, capotei
Corri sem medo
Furei o pneu do otimismo
Dirigi sem carteira
Namorei sem licença
Fui multado
Sem lenço, sem documento
Agora não viajo mais
Só pra dentro de mim
O espaço é enorme
O traçado não tem rumo
A viagem é eterna
Meu Eu brigou Comigo
Que castigo!
Meu Eu disse: comigo não!
Comigo respondeu: eu não estou nem aí
O pau comeu!
Eu apanhou comigo
Comigo que nem Eu
Sofreu
Tu chegou
Tu sabes acalmar meu Eu
Tu sabes ficar de bem Comigo
Tu és meu amigo!
Joguei meu egoísmo no mar, pra matar o doce que há em mim
Matei meu orgulho à tiros e uma bala resvalou na pedra e morri
Enforquei desejos em praça pública pra me ver totalmente nulo
Queimei meus últimos prazeres na fogueira da derradeira paixão
No gelo do polo norte esqueci a vida que vivi nos trópicos
Tudo isso pra dizer o mais puro "eu te amo".
Hoje acordei desavisado
Hoje acordei desavisado
Li notícias da guerra
Com olhos esbugalhados
Hoje acordei desavisado
Vi sangue nas janelas
Fiquei desorientado
Hoje acordei desavisado
Sofri por ser gente
Estou triste e indignado
Amanhã não acordarei
Vou sonhar eternamente
Que desse mundo nada sei
Testamento do poeta
Deixo poemas ricos de paixão pro meu amor
Sonetos soltos para uma amiga ingrata
A palavra gratidão pra mamãe
A palavra solidão pro meu pai
Deixo também minha inspiração no ar
A liberdade de sonhar na primeira criança
Que, na hora de minha morte, não acreditar
Houve um
Também houve de ganhar
Houve tempo sem tempo
Também de nada pensar
De todos os tempos
O melhor foi o de te amar
Roberto Solano
Escrever poesias
Desconstruir os sentimentos que te devoram
E procurar palavras nos escombros
Escrever poesias também é desacerto
Momentos sem lucidez, sem lógica
Tormentas da alma
Escrever poesias é ser louco
É desafinar instrumentos
Para, no final, tocar tambores
Celestes
O gigante da eternidade pisa o presente
A cada passada mata o momento
Na poeira do sapato o passado
Esmagado
O gigante da eternidade não perdoa
Matando o presente sem perdão
A vida acaba, homeopáticamente
Sem explicação
Aprender a não ter começa com não querer
Aprender a não querer começa com aceitar
Aprender a aceitar começa com rezar
Aprender a rezar começa com fé
Aprender a ter fé começa com o não ter
