La Poderosa
Amigos, fui visitar meu filho nos “states”,
fiz uma “trip” pra lá... Descobri que sou um traumatizado com aquele tal de “ customs
“ , ou a polícia federal de lá ( graças a Deus não tinha Japonês ! ). Nessas “Trips”
eu sinto um nó nas minhas tripas mesmo! Os cabras mandam você tirar tudo, e eu,
com um parafuso na perna direita, fiquei uma semana decorando “I have a steel
screw in my knew”, com medo de ser preso... Em tempos de terrorismo a coisa
está feia... Vamos em frente: ao desembarcar no EUA, me senti na fila do aniversario
do Guanabara! Tinha gente pra todo lado para entrar na tal máquina do raios-X,
era indiano, chinês, árabe (disfarçado) e o babaca aqui que vos relata o fato.
Meu queridíssimo filho foi tentar a vida nas terras gélidas do norte e pediu
para eu levar um “ home Theater “ que, na estante, me parecia magro e pequeno;
qual nada, o cidadão tinha o tamanho de um fogão à lenha quando “ ajuntado “,
foi presente da Dindinha, tinha que levar! Uma semana para montar uma caixa com
o dito cujo dentro em camadas de isopor (ou isonor, como se diz lá no Recife)
para proteger, que pronta e examinada por fora não entraria nem no estado da
Paraíba! Imagine nos “states”...
Vamos encurtar a conversa e focar no fato.
Depois do raios-X e das minhas palavras decoradas eu procuro a minha mulher que
estava se remontando toda: colocando sapato, cinto, brinco, meia, casaco, etc..
E seguimos para “pescar” as malas e a minha “caixa bomba” , que dor nas costas
meu amigo, levantar uma caixa com uma alça só é de lascar! A vida de terrorista
é dura mesmo. Seguimos , já devidamente desviados para a seção de “ suspeitos “
, para a entrevista com o policial com cara de bailarino de salsa caribenha. Eu
calado fico e minha adorável esposa respondia as perguntas:
- De dónde vienes?
- From Brasil
- Que vinieron a hacer en los Estados Unidos?
- We are going to visit our son
- Su hijo vive en los Estados Unidos?
Bem, meus leitores, eu já comecei a ficar puto:
paguei uma professora de inglês que me custou os colhões de padre Nicolau e o
sacana só queria gastar o espanhol caribenho dele, como fica isso? Estaria em Miami?
Peguei o avião errado? Ele não sabe o sacrifício que foi aprender o idioma dos
poderosos e tinha que gastar meu portunhol (não estava falando, mas só ouvindo
da boca do bailarino) ??? Segue a entrevista:
- He lives em Seattle and works at AMAZON !
A minha mulher, toda feliz, sabia que a
Amazon era uma grande companhia americana e que esse seria o tiro de
misericórdia para acabar com a entrevista, qual nada, falhou...
- ¿Cuánto tiempo va a pasar aquí y cuántos dólares usted
tiene?
Eu fiquei puto e meio (estava só puto), esse
gordinho com cara de porteiro de casa de massagem em Quito (no Peru!) está
passando dos limites!
- Just for Cristhimas and we have .... Dólares
Aí ele olhou pra cara
dela, para a foto no passaporte, leu o nome (TACIANA) e mandou essa?
- Es uma brasileña de buenos Aires ?
Bem, aí eu raciocinei rápido: Taciana é nome
russo que poderia explicar a tendência da família dela para as danças; Buenos
Aires sempre foi a capital do Brasil aos olhos dos gringos, então soltei meu
verbo em puríssimo portunhol:
- Señor, mi esposa es una bailarina de tango y baile salsa
también y merengue muy bien en mi país...
O oficial deu uma rodada no pescoço que ouvi
os estalos da coluna, olhou pra mim e fixou os olhos por uns 5 segundos; eu, de
minha parte, me caguei todo, sabendo que seria preso e condenado a voltar para
o calor infernal do Rio de Janeiro. Mas, como todo bom mentiroso, mantive os
olhos fixos e cantarolei mentalmente (La noche me quieras...) para manter a
minha cara de Luis Inácio Lula da Silva, deu certo! Senti que ele agora iria me
perguntar algo, seria sobre Dilma? Seria sobre Magri? Eu já pronto para
responder que Dilma tinha eMAGRIcido
muito, quando ouço um “come with me” . Fudeu ! Eu, minhas cuecas afetadas,
minha mulher se achando e o cafetão do Panamá nos levando para conhecer o
canal, sim um canal que levava até uma porta automática na qual tinha um
americano (esse de verdade, com 3 x 2 metros de altura e largura) que,
gentilmente, nos mandou sentar (não tinha cadeira livre) e deixar as “ bagages
and the big box “ no canto. Claro que fiquei em pé e levei um esporro “ sit down !!! “, como? Respondi um where sofrido... O grandalhão viu que não tinha cadeira e pegou uma
só para a nossa bailarina e fiquei de pé olhando para os lados, só tinha
suspeitos, sala lotada, vou perder meu próximo voo para Seattle, não saio daqui
hoje. Já prevendo minha condenação ouço um “excuse me” e o grandalhão passando
por cima de minha mulher para atender um interfone (era uma emergência!) que
estava atrás dela. Pronto, fiquei viúvo, a mulher levou um chega pra lá do
jogador de futebol americano que foi parar no colo de uma negona que estava
sentada do outro lado da sala. Isso não seria nada, até que o brutamonte chamou
meu nome e fui “convidado” a preencher um formulário maior que um pedido de
aposentadoria no INSS. Voltei, tirei a mulher de cima da negona, e disse:
- Amor, agora temos que preencher essa lista aqui...
- Nossa! Vamos perder a nossa conexão, já viu quantas pessoas
tem aqui? Seja rápido (ela já pegando uma caneta pra mim) que eu já fiz a minha
parte! ??? Eu pensei comigo, artista é sempre assim, tratamento diferenciado...
Bem, vou encurtar: das 5550 perguntas do
formulário eu só saberia responder metade... Tô lascado ... Quando entra o
bailarino e vê a minha adorável esposa no canto, de pé, com o infeliz aqui
tentando escrever a minha sentença para entregar ao carrasco...
- Taciana, la señora todavía estás aquí? Ven conmigo !
Rapaz, o guardinha foi ajudando e eu escrevi
tudinho ! Nos levou com caixa e tudo lá pra fora, sem passar por mais nada, só
carimbando os papéis e abrindo caminho! Na despedida me perguntou “que es el
nombre artístico de la misma? “ o que respondi “ La poderosa “ piscando os
olhos pra ele, que se despediu com um “ have a very good trip “ , só olhando
para o gingado das cadeiras dela... Viva Dorival Caymmi!
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