Era verão, o calor no sertão pernambucano se mostrava forte e disposto... O coronel não: na rede descansava ao sabor da sombra e de algum vento desavisado... " coronel, coronel " um menino magro corria com um papel na mão: era carta pro coronel. Naquele tempo as cartas eram poucas, ou nunca, porém importantes. O filho estava na Europa já se faziam dois pares de ano, foi estudar na França, tinha que voltar doutor, era a regra. Ano de 1930, calor infernal, uma carta dizia " painho estou chegando mês que vem no porto do Recife..." O coronel coçou as ventas, esticou as pernas e disse pro mulatinho : " peça a Zefa pra trazer uma pinga, a notícia é das boas ". Feito. O beiço estalava com a cachaça esquentando a goela, a notícia se espalhou, o menino vai voltar, homem feito, macho, doido pra trabalhar e trazer orgulho pro pai.
O tempo passa mais rápido que a carreira do lagarto na caatinga e é chegado o dia. Paletó de linho branco e chapéu de palha, uma bengala de madeira nobre com cabeça esculpida e de ouro. Esse é o coronel Siqueira Brito, homem de palavra e que já calou muita gente, já botou pra correr lampião, já deflorou muita menina nova ( quando os peitinhos estão do tamanho de um limão é a hora do abate ), uma lenda por aquelas bandas. O dia azul, o porto de Recife tinha a tão desejada brisa que adoça os cocos no nordeste e traz o chic-chic das folhas. Chegou o herdeiro. O motorista do coronel, seu Tião, um negro alto e esguio avistou... Lá vem a criatura: uma roupa leve, um lenço amarrado no pescoço, um olhar atravessado feito cu de calango, umas calças justas e um sapato de verniz. E pra completar uma voz um tanto fina disse " estava morrrrrendo de saudades de painho". Painho sentiu seu rosto queimar, as mãos espalmadas pra " dar lhe uns bofetes ", que foram evitados pela rápida intervenção de Tião carretão ( era o apelido dele ): " vamos coronel vai escurecer na estrada ". E lá foi o Ford bigode com a criatura saltitante no banco de trás, falante e esbaforido, perfumado que só... O coronel na frente entristecido com a frescura que emanava do banco traseiro... " Painho, eu preciso urinar ". Tião recebeu ordens de parar e o coronel disse " você vai mijar atrás daquela moita ali, está entendendo ", com uma voz pouco convidativa. O " menino " foi caminhando e o coronel saiu do carro com uma pistola no punho atrás da criatura. Tião gritou " não faça essa besteira coronel !" O que de pronto ouviu de volta " se ele acocorrar eu MATO " 🤣🤣🤣🤣🤣
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