No pedaço de seu abraço eu me despedaço
Teu beijo partido me partiu em mil pedaços
No olhar enviesado errei o caminho
E com o coração quebrado seguirei
Meu anjo torto
E sempre
Desafinando o coro dos contentes
Na vida o mais importante é o desejo, é o oxigênio das realizações. a imagem de colher a flor sempre me marcou. A flor é, e deve ser, sempre intocável, linda e viva. Sempre amei as Camélias, elas me ensinaram que a sensibilidade é algo para ser sentido e perseguido a todo momento. Não colha a flor, alimente-a, regue, reze por ela, deseje-a, faça disso uma regra, e se possível use-a para os homens!
No pedaço de seu abraço eu me despedaço
Teu beijo partido me partiu em mil pedaços
No olhar enviesado errei o caminho
E com o coração quebrado seguirei
Meu anjo torto
E sempre
Desafinando o coro dos contentes
Saudade do que não conheci
Bateu saudade, grande, de um amigo que não tive
Da namorada, imaginada, perfeita
Daquele país que não visitei
Da truta pescada no rio da fantasia
Da mulher perfeita que não me achou
Dos meus 18 anos que não vi
Dos conselhos de um passarinho mudo
De não ter nascido louco nem surdo
Do que não vivi
"Vou-me embora pra Pasárgada"
Mas
"No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra."
Chamem o Rei!!!!
Amor improvável
Ele não gostava dela
Ela não gostava dele
Um esbarrão e um aceno de mão
Um olhar enviesado e um desejo desavisado
Um encontro para avaliar sentimentos
O amor, simplesmente, apareceu
Ele não gostava dela
Ela não gostava dele
O cantinho
Todos temos um cantinho
Um sofá velho
Um travesseiro pra chorar
Uma sombra de árvore
Ajoelhado ao pé da santa rezar
A cadeira no canto do botequim
O olhar no horizonte sem fim
Ou no seio da mãe, simplesmente, mamar
O cantinho é seu encontro com o carinho
Até a paz, finalmente, chegar
A solidão
A solidão faz os objetos crescerem
O sofá fica enorme e o corredor sem fim
O ar infla os pulmões como uma bomba
A pequena janela do quarto ganha grades
O andar é sempre interrogativo
O silêncio grita como um corvo
E as paredes imóveis, imensas
A solidão devora até o Sol da manhã
E gosta, apaixonadamente, da noite
A chuva na vidraça
A chuva molha o vidro da janela
E um choro mais triste invade o quarto
A tristeza vem no desamparo da neblina
O frio no encalço da solidão doe
A noite faz a moldura da dor
Cada um com a sua
A do amor perdido
A de quem partiu
A do velho solitário
A do impossível desejo
E na janela as gotas correndo
Até a tua face molhar
Encontrei a Paz
Encontrei a Paz e ela não estava em paz
Perguntei: " por que não estás em paz?"
Resposta: "estou deprimida"
Ela não acha graça em nada, muita paz
Ofereci um pouco de problema
Um punhado de obrigações
Um filho pra criar
Um casamento pra levar
Dívidas e desconfianças
Ela sorriu, e educadamente, agradeceu
"Já reencontrei a minha paz, obrigada"
Eu me despeço
Amigos, eu me despeço
De gente chata
Dos olhares invejosos
De quem se acha melhor
Do pior
Adeus fazer sala
Ajudar quem não merece
Falar sem ser consultado
Muito menos ouvir besteiras
Me despeço com um aceno
E o dizer, até nunca mais
Roberto Solano Novaes
Cansado de passar o tempo e engomar recordações, vou descansar entre o passado e o presente e desprezar o futuro. Como um boi no pasto vou ruminar meus pecados até engoli-los sem remorso, depois, debaixo da sombra da árvore, pensar em nada, absolutamente nada, até dormir solenemente o sono dos inocentes.
Delicado
Pegue na minha mão pra dizer não
Toque no meu cabelo para um apelo
Sinta meu cheiro e esqueça o desespero
Me dê um beijo para saciar seu desejo
Acaricie meu seio e esqueça seu anseio
Seja delicado na hora do pecado
Pedra, poesia, poeira
Pedreiro de pedras, e poeta de poeiras
Mãos calejadas de marretadas, pensamentos longe
No escuro da noite o peso das pedras
Na poesia perdida, entre o som das batidas, poeira
Sou poeta de coisas duras e não sei amar
Em pedras duras só sei teu nome replicar
O problema de hoje
O problema de hoje é o amanhã
A certeza do incerto e a ilusão da esperança
Queria um hoje puro, sem pensar no amanhã
Como um pássaro voar, dono do céu
Como a pedra da Gávea sentar no sol parado
Como, no infinito segundo do primeiro beijo, acreditar
O problema do ontem é o hoje
Para todo o sempre, o nada e o tempo
Qualidade e defeito
Se viram no bar
Qualidade com lindos cabelos
Defeito careca
Ela maravilhosa
Ele feio e esquisito
Quem diria que se amaram?
E, nove meses depois, nasceu
O ser humano
Com qualidades e defeitos
Fruto do amor impossível
O despertador
O despertador acorda o trabalhador
O amor desperta a dor
Não há amor sem dor
Não trabalho sem despertador
Quando o sol não pede licença, ele entra na tua retina como tua mãe no teu quarto, como teu primeiro amor, dominando os espaços, invadindo, simples assim.
Argumentos
Quando eu me for não levo lembranças
Chegarei cheio de argumentos
Defenderei meus pecados
Não acusarei, jamais, meus amigos
E lá no tribunal final dos mortais um advogado
Sim, uma advogada, me espera
Mamãe
Amor e ódio
Amor e ódio se sentaram na mesma mesa
O mundo pedia pela paz e fim das guerras
Difícil foi reunir os dois pra conversar
Amor sentou com educação e elegância
Ódio, com roupa rasgada e rangendo os dentes
Como mediadora, a digníssima senhora Esperança
O mundo esperava por isso há muitos anos
"Boa noite" disse Amor com suavidade
"Boa noite é o cara@#$!", resposta do ódio
"Vamos manter a calma e respirar fundo", dona Esperança falou
" Eu quero paz", "eu quero guerra"
" Eu posso te amar", " eu posso te escalpelar"
Um barulho surdo na mesa: um soco cheio de ódio
Uma lágrima corria dos olhos do Amor
A reunião acabou com brigas, xingamentos, e outras baixarias
Quem ganhou?
A imprensa televisiva, bateu recordes de audiência