Viajando na Verdade
Vejo a Vaidade
Vagamente...
Vagabundo...
Vejo Vultos
Volto Voluntário da Vacância
Verdadeiro
O Valor Vai
Voltar Verdadeiramente
Você Vai Valorizar
A Vida
Roberto Solano Novaes
Na vida o mais importante é o desejo, é o oxigênio das realizações. a imagem de colher a flor sempre me marcou. A flor é, e deve ser, sempre intocável, linda e viva. Sempre amei as Camélias, elas me ensinaram que a sensibilidade é algo para ser sentido e perseguido a todo momento. Não colha a flor, alimente-a, regue, reze por ela, deseje-a, faça disso uma regra, e se possível use-a para os homens!
Viajando na Verdade
Vejo a Vaidade
Vagamente...
Vagabundo...
Vejo Vultos
Volto Voluntário da Vacância
Verdadeiro
O Valor Vai
Voltar Verdadeiramente
Você Vai Valorizar
A Vida
Roberto Solano Novaes
Os pesos e medidas
O peso da luz no espelho da vida
O tamanho do vento que traz alegria
A velocidade do pensamento parado
A densidade do amor perdido
O calor inexplicável do beijo da morte
A grandeza da pessoa amiga
A distância infinita do amigo aflito
O som ensurdecedor de seu grito por socorro
Nada se mede nos sentimentos
Só no metro curvo e na balança sem peso
Vais compreender
Expectativa e Realidade
Expectativa conheceu Realidade no Tinder
Foi atração imediata, amizade e amor
Amor de Web, sempre quebra a expectativa
Foi o que aconteceu, se encontraram
Expectativa de calça justa e blusa vermelha
Realidade de jeans e camisa branca
Uma saindo de casa, banho tomado, perfumada
A outra, vindo apressada do trabalho
O local era aberto, fim de tarde, verão
Expectativa viu a realidade, que decepção
A Realidade olhou a expectativa, que mulherão
Não deu certo, a realidade não é igual à expectativa
O amor acabou
Atropelamento do poeta
O poeta foi atropelado
As ideias passavam buzinando
Como loucas atravessando sinais
Por cima do meio fio
Acertaram o poeta da calçada
Depois vieram as palavras soltas
Outras de bicicleta com verbos na garupa
Uns adjetivos de skate
A confusão estava formada
O poeta atropelado na calçada
Tentando fazer versos
Sobreviver
O poeta foi socorrido pela ambulância Drummond
Atendido na emergência Neruda
E está nas mãos do cirurgião Manuel bandeira
Rezemos por ele
Era tanto amor
Era tanto amor que Deus não acreditava
Os anjos riam e davam cambalhotas
Quando se beijavam passarinhos cantavam
Nas ruas o povo aplaudia as mãos dadas
Amor tão grande que poetas desmaiavam
As mães mostravam para os filhos
O amor impossível e inacreditável
E assim esse amor foi vivido, exaurido em vida
Nada sobrou, só contos e histórias de amor
Romeu e Julieta
Eu e você
Nunca viveremos esse amor
Ele nasceu e se evaporou em nuvem
Subiu aos céus como tinha que ser
Era tanto amor, tanto amor, que Deus não acreditou
Ah suas curvas...
Eram intensas e sutis
Quase um traço alegre
Ou uma sinfonia de luz
Não sabia decifrar o mistério
Que há, há, sinuosa atração
Caminho do desejo?
Ou desenho divino
Não sei...
Só sei que lá escreverei
Amor
Amor eterno
O amor eterno é a utopia do desejo
O sonho do apaixonado
A certeza de quem vê
No palco sagrado do altar
O amor eterno é tão certo como o amanhã
Tão perfeito que não existe
E se existir será como Vinícius de Moraes
Enquanto dure
Muro de arrimo
Chato ser muro, viver dividido entre vizinhos
Ser muro de arrimo é bem pior
Posso tombar, escorregar e até cair
Sou caprichoso, não gosto de água
Temporal é meu maior inimigo
Meu maior amigo é a drenagem
Confesso ser um sujeito difícil, chato mesmo
Cuidado comigo!
O poder do silêncio
O poder do silêncio é corroer palavras
Oxidar pensamentos raivosos
Gritar por fantasmas
Rezar
O poder do silêncio é acalmar crianças
Adormecer os mais velhos
Digerir a mais profunda oração
Dizer sim ao coração
O poder do silêncio é falar a língua dos surdos
Fazer o amor ser mais platônico e puro
Pedra árvore
Você de longe é pedra
De perto é árvore
Você encanta areias
E passarinhos
Você é uma pedra árvore
Você me engana
Aquele momento
Aquele momento em que você sopra a xícara de café e toma o primeiro gole
Aquele momento de olhar o céu azul no domingo azul
Aquele instante de abrir a janela do carro e despentear os cabelos
Na hora de provar o pudim da mãe e sorrir pra ela
O momento exato do nascimento do filho
Esses momentos são de paz, paz celestial
Viga em balanço
Ela é a única a se dar ao luxo de ter um único apoio
A mais delicada de todas, a mais linda
Se lança para o vazio com poesia e classe
Virtuosa criatura espacial, paixão dos arquitetos
Caprichosa, precisa nascer certa e de muitos cuidados
Seu único apoio precisa ser firme e robusto
Mulher de um homem só: seu engaste
A mais feminina das estruturas, respeita-a
Sociedade das sapatas
Somos muitas, desde às singelas até Cássia Eller
Tem as corridas, longas, elas vão longe
As de divisa são difíceis, adoram encrenca com vizinho
As geminadas, sempre de mão dadas, lindinhas
Todas são importantes e esquecidas, sepultadas
Quando o prédio vai cair, se diz "é culpa das sapatas"
Triste sina das senhoras precocemente abandonadas
Todas tão distintas, tão valiosas e sepultadas
Consolo curto
Nasci pra apoiar, consolar, resolver
Os pré-moldados me amam
Sem a minha presença eles não existem
Isso mesmo: sou curto mas sou gostoso
Elas, as vigas, que o digam
E tem mais: adoro a delicadeza do neoprene!
Sou mesmo convencido, me acho o máximo
Mesmo sendo o mínimo.
Viga de transição
Nasci pra sofrer
Em forma de viga, imensa, e sobrecarregada
Sobre mim o peso da estrutura
Não posso falhar!
Cheia de barras retorcidas, estribos, concreto, complicada
Como um Aquiles da engenharia, eu sofro
Sou tudo e sou nada, escondida por ser feia
Viga gorda, feia, é triste viver na transiçãoy
Anjos travessos
Só conheci anjos travessos
Alguns, como viu o Macalé, com asas de avião
Nada de candura, muito de travessura
Após a frenada que dei, a gargalhada
"Você quase morreu"
De outra feita o tiro passou, o susto ficou
"Dessa vez foi por pouco"
E a risada solta no ar...
Anjos travessos
Gostam de brincar
E de salvar
Viga Vierendeel
Eu sou uma viga casamenteira
Junto os pavimentos com classe e elegância
Muitas vezes esquecida
Por outras sou trocada
Pela treliça, odeio ela
Dona treliça, cheia de truques e diagonais
Comigo não! Meu papo é reto!
Sou bela por natureza
Sou Vierendeel por destreza
A mais bela de todas!
Pilar curto
O momento exato entre o salto e a queda
Entre o estampido e a dor
Do último olhar na janela
Da lágrima e o aperto no coração
Da aflição da agulha que adentra a carne
Do beijo de despedida no portão
O momento exato é, sobretudo, uma ilusão
Eu a vi, lá na Bahia
Uma aldeia de índios
Seu bicho preguiça
E seu olhar
Em breve momento vi
A floresta e rios em seus olhos
Uma paz inexplicável
Uma brisa verde adentrou meu coração
Simplesmente a vi
A menina e a pureza
Na força maior da natureza
Roberto Solano
Saudade
Saudade é dor da alma
Aquela que adere
Que maltrata rindo
E mata homeopaticamente
Invade espaços, mãe da tristeza maior
Senhora de todos os asilos
Aquela que não morre por vocação
Aquela que perfura o coração
O susto do anjo 😇
Anjo não se assusta
Este anjo de assustou
O capeta que assopra apareceu
Esse danado afasta anjos com sopros
Sopros quentes que dissolvem asas
Asas de anjo, algodão
Suspiros malditos, anjos sem asas, sem ação
Recanto das almas perdidas
Lá, no recanto das almas perdidas, te vi
Olhei e vi o que não quis
Teu rosto pálido de dor
A dor d'alma é diferente
Ela vai até às nuvens
Cai em tempestades de raios
E dilaceram o eu
Seu pecado lá tremulando em letras molhadas de lágrimas
" Eu só vivi pra mim"
Voltei do recanto muito triste
E, como um tolo, te perdoei
Está tudo certinho
O dia amanhece com um sol tímido
A chaleira anuncia o café quente
O pão e a manteiga conversando
A janela aberta traz sons de passarinhos
Um bocejo acalma a alma
Está tudo certinho
Você vê a vida nos detalhes
Aquela aranha no telhado não incomoda
O ranger da porta menos ainda
As imperfeições são adornos da felicidade
Está tudo certinho
Agora a vida segue seu rumo torto
A certeza do incerto é vital
Você adentra na mobilidade do talvez
Já não está tudo certinho
Insólita poesia
Como Salvador Dali mergulho no insólito
Em elefantes marchando sobre nuvens
Baleias passarinhos
E o tempo dando marcha ré
O céu brincando de vermelho fogo
Esfriava ursos polares
Uma moça jogava beijos em flores vadias
Um órgão tocava Led zepelim
Na dança louca de monges beneditinos
Um sapo regia a orquestra
E um cego orientava o trânsito do meu coração
Agora estou mais leve
Mais solto
Mais Dali
Os pecados
São eles: avareza, gula, inveja, ira, luxúria, preguiça e soberba. A avareza precisa do dinheiro, a gula da comida, a inveja e a ira do outro, a soberba do poder, sobrou a preguiça como o pecado mais individual, mais independente, mais fácil de conquistar sem incomodar, o pecado perfeito! Vivam os baianos, a rede pra deitar, o olhar perdido no céu azul de Itapoã, a certeza que o outro é "meu rei", o sabor que o nada é tudo, que a tartaruga sabe viver feliz, que trabalhar é pecado mortal. Essa filosofia te leva ao nirvana na terra e a certeza que São Salvador da Bahia pode te salvar.