terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Trazendo

 Trazendo 


Trazendo nas mãos o afeto 
No olhar o perdão 
No bolso um punhado de promessa

Levando um pouco de paixão 
Migalhas de amor infinito 
Promessas sem fim

Deixando na vida a certeza 
Do tudo não feito
Do nada perfeito do viver

Filho único

 Os novos casais, quando querem ter filhos, optam por um só: há um epidemia de filhos únicos, e por consequência, essas crianças não terão irmãos. Isso é muito danoso para a formação do caráter do indivíduo, pois é com teu irmão (ã) que aprendes, dentro de casa, a dividir, a brigar e conciliar, a ter paciência (mesmo que pouca), a lidar com as adversidades do relacionamento humano. Então, caso o casal tenha um só filho, procure educar com orientação para não criar um péssimo cidadão no futuro.

domingo, 7 de dezembro de 2025

O prego

 Prego


Quero falar do prego, sem esquecer o martelo 

Os pregos são tantos: com cabeça, sem cabeça 

Nunca vi um prego desmiolado...

Tem até o prego asa de mosca

Todos são o elo da história da engenharia 

Eles fazem a mágica da união 

Simples, fáceis de usar, um sujeito simpático 

Ele merece respeito! Não pise nele 

Até Cristo esteve com ele...

Nas mãos dos carpinteiros é obra

Nas mãos dos marceneiros é arte

Só não se esqueçam do martelo

O casamento perfeito.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Destilando ódio

 Destilando ódio 


Da cana dura extrai o veneno 

No alambique da inveja a mistura 

Traição com falta de caráter 

Uma pitada de desamor 

Teu retrato picado em mil pedaços 

Tudo conservado em barril enferrujado 

10 anos de envelhecimento 

E agora um gole de ódio puro 

Em tua homenagem!



segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Tubarão branco

 Tubarão branco 


Não quero ser o tubarão branco do seu mar de rosas

Não quero ver sua alegria extasiante

Sua felicidade ao lado do Netuno 

Seu novo amor em seus braços de sereia 

Me poupe de vê-la ornada de pérolas 

Linda demais 

Não quero ser o tubarão branco no seu mar de rosas




segunda-feira, 24 de novembro de 2025

O estatuto do engenheiro

 

TEXTO: OS ESTATUTOS DO HOMEM
(ATO INSTITUCIONAL PERMANENTE) (Thiago de Mello)
A Carlos Heitor Cony
ARTIGO I Fica decretado que agora vale a verdade,
 que agora vale a vida,
 e que de mãos dadas,
 trabalharemos todos pela vida verdadeira.

Agora vale a boa engenharia e, de mãos dadas, trabalharemos para a engenharia verdadeira 


ARTIGO II Fica decretado que todos os dias da semana,
 inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
 têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Que todos os dias, inclusive os mais cinzentos, serão para a boa técnica e melhoria de nosso conhecimento 


ARTIGO III Fica decretado que, a partir deste instante,
 haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

A partir desse instante seremos mais atenciosos com nossos colaboradores e prometemos mais paciência com nossos estagiários 



ARTIGO IV Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

O engenheiro confiará no projeto assim como o projetista confiará no engenheiro, em uma corrente contínua todos confiarão entre si para a execução da obra melhor que há 


PARÁGRAFO ÚNICO: O homem confiará no homem
 como um menino confia em outro menino.

O engenheiro confiará no outro engenheiro como um operário confia em Deus 

ARTIGO V Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armaura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

A verdade será servida na obra, em cada planta, em cada frase, em cada bom dia dado a cada operário 

ARTIGO VI Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

A comida da cantina será saborosa como a macarronada de nossa vó 


ARTIGO VII Por decreto irrevogável fica estabelecido
 o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Idem 

ARTIGO VIII Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

A maior dor é não saber da verdadeira razão do erro nosso de cada dia



ARTIGO X Fica permitido a qualquer pessoa,
 a qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.

Permitido a qualquer hora do dia tirar o sapato apertado e jogar uma conversa fora para o bom relacionamento com os funcionários 



ARTIGO XI Fica decretado, por definição,
 que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Decretado que engenheiro é gente, sofre, ri, ama e detesta os que não lhe dão atenção 



ARTIGO XII Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Nada será obrigado ou proibido no canteiro da obra, menos não atestar a qualidade do concreto 



PARÁGRAFO ÚNICO: Só uma coisa fica proibida:
 amar sem amor.

É proibido fazer engenharia sem amar a profissão 


ARTIGO XIII Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

O dinheiro será um servo da boa engenharia e nunca uma ferramenta de corrupção e facilidades 


ARTIGO FINAL Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

O bom engenheiro tem a liberdade de dizer não para erguer sua obra repleta de sins com qualidade e segurança 

Quinta Normal, 
Santiago do Chile, 
abril de 64.
Publicado no livro Faz Escuro Mas Eu Canto: Porque a Manhã Vai Chegar (1965).
In: MELLO, Thiago de. Vento geral, 1951/1981: doze livros de poemas. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1988. Disponível 



O caranguejo

 O caranguejo 


Fui no IA perguntar o que é caranguejo 


Caranguejo é um crustáceo decápode 


encontrado em ambientes marinhos


Fui na obra perguntar ao mestre de obras 


Doutor, aqui na obra esse bicho é que segura o ferro 


Valente que só! Sem ele o negativo se lasca

Bicho bom


Perguntei se podia armar uma laje sem ele


A resposta veio curta e grossa:

O doutor está doido?


Fui tomar uma cerveja gelada comendo um caranguejo 🦀